Dor do parto
Já perdi a conta de quantas amigas e pacientes grávidas eu conheço que ficam apreensivas com relação à dor do parto normal.
Na nossa cultura latino-americana, diferente da cultura oriental, fomos instruídos que não é bom sentir dor e que precisamos evitar a dor a todo custo.
Acontece que, durante o parto normal, a dor funciona como um guia. Durante o trabalho de parto é como se o corpo da mulher fosse “atacado” e colocado em perigo; e, quando estamos em perigo, por instinto, ou lutamos ou fugimos. A dor então deixa o corpo da mulher em alerta, onde cada ação sua corresponde a “atacar”, e a resposta mais importante do corpo da mulher é o movimento – a liberdade de movimento durante o trabalho de parto permite que a mulher assuma posições, instintivamente, que reduzem a pressão das contrações, ajudando na redução do estresse do bebê e administrando melhor sua própria dor.
A dor intermitente do parto, com os picos durante as contrações, promove a liberação de catecolaminas, que são responsáveis pela produção de ocitocina.
A ocitocina tem a função de estreitar o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. Além disso, é o hormônio que faz com que o útero contraia ao final da gravidez, para que o bebê nasça. A ocitocina é chamada de hormônio do amor pois está intimamente ligada à sensação de prazer, bem estar físico e emocional.
Quando as catecolaminas não são produzidas de forma intermitente, elas inibem a produção de ocitocina, o que pode retardar o trabalho de parto e até “congelar” o trabalho de parto em torno dos 3cm de dilatação.
A dor do parto também estimula a produção de endorfinas que, em um segundo momento do trabalho de parto, são responsáveis por reduzir a dor e colocar a mulher em uma espécie de “estado hipnótico”, para permitir a saída do bebê e recebe-lo com alegria.
As endorfinas também induzem a mulher a um “estado sensível” para o nascimento e permite que ela concentre todos os seus instintos e sentidos sobre o nascimento, dando as boas vindas ao bebê em seu mais profundo estado inconsciente instintivo.
O objetivo desse post é desmistificar um pouco a questão da dor no parto, descontruindo seu papel de vilã e explicando todos os benefícios que ela desencadeia nesse processo, que é fisiológico.
O que é mais importante nessa história toda é a mulher ter as orientações corretas para que possa fazer a escolha segura do seu tipo de parto, junto com seu médico. Independente do tipo de parto que escolher, a mulher deve ser respeitada e estar segura da sua decisão.
Carol
Enfermeira neonatologista
COREN-SP 205.257