A verdade sobre amamentação

Dentre as principais dúvidas que permeiam minhas redes sociais, o mito do leite insuficiente, com toda certeza, é o campeão de audiência quando o assunto é amamentação.

Quando paramos pra pensar no que a indústria do leite artificial fez com a sociedade, os resultados são alarmantes: as pessoas acreditam que a mulher não é capaz de produzir leite suficiente para o seu bebê, em consequência disso buscam loucamente “técnicas” para “aumentar sua produção de leite”, acham que bebês recém-nascidos choram de fome e que as chupetas são ótimas aliadas porque “distraem o bebê” e deixam a mãe “livre pra fazer outras coisas”.

O desmame precoce e a recomendação indiscriminada de substitutos para o leite materno é uma preocupação latente dos estudiosos de amamentação. Há registros de 888 a.C. de mulheres segurando espécies de mamadeiras e oferecendo a bebês – o que se sabe dessa época é que quando uma mulher não podia amamentar seu filho, ofertavam leite humano de outras mulheres. Uma nota importante sobre esta prática, que chamamos de amamentação cruzada, é que ela não é fortemente contraindicada pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, pois traz diversos riscos ao bebê, podendo transmitir doenças infectocontagiosas. Na década de 1780 iniciou a recomendação de ofertar leite de vaca a bebês recém-nascidos – as mulheres que tinham melhor condição financeira recusavam-se a amamentar seus filhos.

Em 1856, em um mundo sem geladeiras e sem possibilidade de estocar leites de qualquer tipo sem que apodrecessem, descobriram uma forma de produzir um leite sem bactérias – o leite condensado. A partir de então, o Sr. Henri Nestlé (esse nome é familiar pra vocês?), usando o leite condensado, descobriu uma forma de armazenar o leite em latas e inicia a produção do leite condensado enlatado.

Fazendo de uma história longa, uma história curta, há diversos registros (inclusive em propagandas em jornais da época) da oferta de leite condensado aos bebês recém-nascidos, principalmente aqueles bebês cujas mães precisavam trabalhar fora. Desde o final do século XIX, com o aparecimento de várias patentes de fórmulas para alimentação infantil, há registros de uma relação entre médicos e indústria de alimentos infantis, em especial o leite artificial.

De lá pra cá, com o impacto direto da indústria nas relações familiares, nos perdemos. Simplesmente nos perdemos. Não acreditamos mais na ciência – como pode um mamífero não produzir leite suficiente para seu bebê? E essa dúvida constante, quando somada à instabilidade emocional do pós-parto, resulta em insegurança. Quando não temos informação adequada, ficamos inseguras e vulneráveis. A informação empodera e dá segurança pra seguir em frente e escolher o melhor caminho.

Isso posto, vamos tentar desmistificar algumas questões.

Produção de leite:

A produção de leite materno é dada por ação hormonal – quando o bebê suga e estimula a glândula mamária, produzimos os hormônios prolactina (responsável pela produção do leite) e ocitocina (responsável pela saída do leite através do mamilo). E essa produção é regulada sob demanda, ou seja, o corpo produz exatamente o que o bebê precisa. Por isso que eu digo que peito não é estoque, mas sim fábrica. 80% do leite materno é produzido durante a mamada, durante a sucção do bebê. Então não estranhe se não sentir seu peito cheio de leite – peito cheio é sinal de bebê que está com dificuldade de ordenhar.

Casos de cirurgias nas mamas ou mães com alterações metabólicas, hipotireoidismo, por exemplo, devem ser avaliadas individualmente, caso a caso, por um especialista em aleitamento materno. Veja bem, pediatras e obstetras não necessariamente são especialistas em aleitamento materno.

Bicos artificiais e amamentação:

A maioria dos bebês sabe sugar corretamente por instinto, salvos os casos de alterações, como freio lingual curto, lábio leporino, fenda palatina, etc. A maioria dos bebês sabe sugas corretamente por instinto, até que a gente ofereça pra ele bicos artificiais. Chupetas, mamadeiras e bicos de silicone (aqueles intermediários que dizem que ajudam na amamentação), interferem negativamente no aleitamento materno. Quando o bebê usa bicos artificiais, acaba treinando um padrão de sucção muito diferente do padrão de sucção do peito – o que resulta em machucados nos mamilos, ordenha ineficiente, mastites e ingurgitamentos e diminuição da produção. Aí sim a mãe pode falar que não teve leite suficiente. Mas ela tinha. Antes de colocar bicos artificiais, ela tinha.

Bebês choram de fome?

Já fiz uma pesquisa nas minhas redes sociais e cerca de 65% das pessoas sabem que bicos artificiais atrapalham a amamentação. Mas então, por que as mães oferecem chupeta pros bebês?

Alguém, algum dia, iludiu essa mãe e disse pra ela que bebês mamam e dormem e aí ela pode aproveitar pra fazer as atividades do dia-a-dia.

Acontece que nos três primeiros meses de vida a maternidade não funciona bem assim – saiba mais sobre a teoria da exterogestação nesse vídeo https://goo.gl/EiwZVi

Bebês até três meses de vida não curtem muito viver, se sentem muito inseguros, muito sozinhos, estranham todas as sensações (fome, frio, calor, luminosidade, barulho, etc). E aí eles choram. Pensem que eles estavam acostumados com a vida dentro da barriga, que era bem mais calma e mais suave. Aí os bebês nascem e a gente quer que simplesmente eles sejam mini-seres humanos, com nossos hábitos e comportamentos. E aí eles choram. E podem chorar muito.

Quando eu pego uma mamadeira e dou leite artificial pra ele, porque eu estou achando que ele tá chorando de fome, ele para de chorar – para de chorar porque tem a sensação de ter comido uma feijoada. E aí ele fica horas sem querer ir pro peito. E reduzi o estímulo na glândula… E o corpo acha que não precisa produzir tanto leite assim… E vai diminuindo a produção.

Bebês choram e precisam de carinho, empatia e aconchego. Bebês que apresentam boa sucção no seio materno, apresentam xixi e coco normais, não estão chorando de fome, pode apostar. Não estão chorando de fome, não precisam de mamadeira com leite artificial, não precisam chupar chupeta.

A chave do sucesso da amamentação é buscar informação. Quando você se informa, você se empodera e tem certeza de que está fazendo a coisa certa para seu bebê. Não passe sozinha pelo desafio do início da maternidade. Há pessoas que podem estar ao seu lado nessa jornada.

Conte comigo!

Carol

Enfermeira neonatologista

COREN-SP 205.257

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